quarta-feira, 22 de abril de 2009

O Conflito


É muito frequente deparar-me com cães, sejam eles cachorros ou adultos, os quais evidenciam algum receio quando brincam com os seus donos. Os primeiros sinais manifestam-se nos gestos bruscos do condutor do cão e na hesitação do próprio cão em agarrar ou manter um brinquedo na boca.


Paralelamente a este facto, existe igualmente a indiferença dos cães aos seus donos, quando libertados da trela. Vale tudo menos ir ter com o dono quando este o chama.


Esta realidade começa a formar-se nas idades mais jovens dos cachorros, altura em que as brincadeiras desmedidas com as mãos, não passam de provocações constantes para o animal. Este responderá da única forma que sabe ou seja, mordendo. Cenário que o dono não permite, acabando por repreender o cachorro com uma palmada (muitas vezes no focinho). Tudo isto está errado.


O resultado, deste “jogo” e respectiva consequência, acabará por gerar um conflito crescente, em que o cão deixará de perceber qual a barreira entre a brincadeira e uma luta na qual terá que se defender.


Igualmente, desde cedo, os donos querem testar a sua supremacia sobre os seus cães, forçando sistematicamente a que os cachorros larguem tudo que tem na boca. Algo que se agrava com a permanência de um cachorro que, livremente, percorre uma casa ou um quintal/jardim. O preço a pagar será alto, quando um dia se queira treinar um cão através da motivação e recorrendo a métodos positivos (Ex: Uso de bolas, churros ou mesmo comida). Na mão do dono, o cão nunca terá confiança ou motivação suficiente para brincar. Também neste caso, o cão deixará de perceber quais os limites da sua liberdade.


Por fim, e como oposto aos cenários anteriores, curiosamente, os donos deixam os seus cachorros crescerem, habituando-os, a passear livres da trela. Situação que os poderá colocar em risco, bem como, incorrectamente, irem incomodar terceiros (sejam outros animais ou pessoas). Procedendo desta forma, livres e sem obediência, os cachorros aprendem a libertar-se não só da trela mas também do dono. Principalmente, quando nestas circunstancias, a bem ou a mal (após longos e longos minutos de desespero) são apanhados e remetidos na base da força para o final do passeio.


Será sempre importante entender os cães, não os ver como humanos nem tão pouco os ter por mero capricho. Não menos importante, ter a humildade suficiente para perceber que, muitas vezes, antes de pensar em treinar um cão, deve pensar em “treinar-se” a si próprio.